domingo, 12 de julho de 2009

A realização fantástica

Acordar.

Não entender onde está. Olhar em volta e fazer uma vaga idéia de onte se está. De repente, lembrar: a própria cama.

E levantar: outro martírio. Por que correr pra esse mundo maluco, estressante? Bom, quem sabe hoje não é um dia do tipo em que a Terra toda parou, e se possa pensar melhor e mais sobre o que se vai fazer, ao invés de ganhar dinheiro - ou acumulá-lo, que seja, são sinônimos hoje em dia.

Bom, o que resta então é pensar um pouco sobre essa possibilidade. Virar-se para o lado da parede, ou o outro lado da cama (pois pode ser que não haja uma parede em algum dos lados da cama, se ela estiver no meio do quarto).

Depois de bem pensado o assunto, levantar. Provavelmente a hora do primeiro compromisso do dia seja já passada. Bom, pelo menos dá pra lidar com o próximo compromisso do dia. Mas o que são esses compromissos? São realmente necessários? Talvez sejam.

Estar pronto. Sair. Durante o caminho pensar sobre coisas aleatórias, principalmente sobre como os outros veêm as coisas. Chegar ao compromisso sem lembrar muito do que tinha pra fazer a respeito dele. Lembrar quando for cobrado ou lembrado por alguém.

Dificilmente prestar atenção ao que se está fazendo, pois a mente nunca está acompanhando o corpo, está além de si própria, num espaço para mentes voadoras.

Depois dos compromissos, voltar pra casa. Na casa, ouvir música, cozinhar, ler, estudar e tudo isso sem coneguir a tão propagandeada concentração, a tal transpiração de que é constituido um gênio.

Tentar dormir. Não conseguir, pois a mente ainda não voltou de seu espaço único.

A vulgaridade da vida cotidiana contrasta com a beleza suprema de ser o que se é, com a beleza suprema da auto-sinceridade (capacidade de saber o que se quer ou, no mínimo, assumir os riscos das próprias ações sem medo).

Eis a realização fantástica da realidade: viver o contraste.

Recomendo "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Khundera.

Um comentário:

Mary disse...

Não entendi bem, mas achei bonito, uma vez minha mãe se superou: ela assistiu o Ivan Lins tocando na tevê e se saiu com essa: não entendi bem, mas senti que é coisa boa. Mal sabe o Ivan Lins que recebeu o maior elogio a que um compositor tem direito.

Minha cama é encostada na parede, só saio dela pelo meu lado esquerdo. Não tem janelas.